A partir dos 5 anos, espera-se que a criança tenha controle dos esfíncteres, em outras palavras, consiga reconhecer o momento de fazer xixi e ir ao banheiro para evitar se molhar. Geralmente, as crianças já foram desfraldadas durante o dia e não apresentam dificuldades para ir ao banheiro quando sentem necessidade. No entanto, à noite podem ter episódios de urinar na cama. A essa dificuldade chamamos de “enurese”.
A enurese pode ocorrer durante o dia, em momentos que a criança está ativa, durante o sono noturno ou em ambos. Na maioria dos casos a perda de urina é involuntária, mas em alguns casos pode ser intencional. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5), a enurese é caracterizada quando a perda da urina ocorre pelo menos duas vezes por semana por pelo menos três meses consecutivos em crianças com no mínimo 5 anos, pois entende-se que nessa idade, a criança já tem o controle esfincteriano.
Durante o dia, a criança adia a ida ao banheiro por estar ocupada com brincadeiras ou atividades ou por relutância em usar o banheiro, como em casos de ansiedade social. A enurese noturna ocorre, geralmente, no primeiro terço da noite.
Ainda são descritos dois subtipos de enurese, sendo o primário, quando a criança nunca apresentou controle da urina, e o secundário, quando a criança apresentou controle da urina, no entanto, voltou a ter episódios de incontinência.
Segundo o DSM-5, a prevalência da enurese é de 5 a 10% entre crianças de 5 anos, de 3 a 5% em crianças de 10 anos e em torno de 1% em pessoas com 15 anos ou mais. Estudos apontam que a ideia de que o problema será superado naturalmente pela criança é errôneo. Apenas 15% das crianças com enurese superam a dificuldade de forma espontânea, além disso, há estudos que indicam que a enurese também está presente na adolescência (SILVARES, 2012), o que indica que o problema pode continuar da infância até a adolescência (e até mesmo à vida adulta), caso não seja tratado.
É preciso investigar se há alguma outra condição associada à enurese, como alterações nos rins, bexiga, uretra ou qualquer outra região do sistema urinário. Para isso, os pais podem buscar um médico e relatar as dificuldades. O acompanhamento psicológico também pode ser necessário, pois através de alterações no comportamento e hábitos da criança (e até da família) pode haver uma melhora.
A enurese também pode estar relacionada a questões emocionais da criança, nesse caso, é necessária uma avaliação para entender quando o problema começou e a história de vida da criança.
Sabemos que é possível modificar essa condição, no entanto, é necessário avaliar, entender como ocorre e orientar a criança para mudanças comportamentais, assim como oferecer o apoio necessário para que a criança realize as mudanças pertinentes.
Referências:
MANUAL diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2014. 880 p.
SILVARES, E. F. M.; PEREIRA, R. F. (org.). Enurese noturna: diagnóstico e tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2012.
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